Steven Spielberg é daqueles diretores que encantaram o mundo na década de 80 e, de seus clássicos emotivos, foi consagrado com A Lista de Schindler na década de 90. Desde então, parece que busca desesperadamente um novo E.T., Tubarão, Jurassic Park ou seja lá o que mais. Isso acaba o prejudicando e dando um certo ar de artificialidade em suas obras. Assim, surge Cavalo de Guerra,
que está até bem nas cotações das premiações do ano, mas parece que
falta algo. É um épico, de fato, bem realizado e está longe de ser um
filme ruim. Mas, também não é o Spielberg que todos esperam ansiosos rever.
Baseados no livro de Michael Morpurgo, os roteiristas Lee Hall e Richard Curtis constróem a história de Joey, um cavalo
considerado mágico e capaz de ir além de qualquer outro animal. Pelo
menos é isso que ouvimos a cada momento de personagens diferentes. O
interessante em Cavalo de Guerra é que aqui de fato Joey é o protagonista, ao contrário da série Corcel Negro,
por exemplo, onde o garoto é o foco principal. E mais interessante
ainda é que a fábula não antropomorfiza Joey, não temos seus
pensamentos, graças a Deus ele não fala, nem faz algo parecido. É apenas
um cavalo especial, que acompanhamos desde o seu
nascimento. Sua ligação com o jovem Albert, vivido por Jeremy Irvine, e
suas dificuldades na fazenda dos Narracotts. Depois seu "alistamento" na
Primeira Guerra na cavalaria inglesa e toda a saga que decorre disso.
Acompanhamos Joey em sua trajetória e as pessoas que ele vai conhecendo no caminho. Isso torna o filme
um pouco superficial. Não há um aprofundamento de personagens, nem
mesmo de situações. Temos o fazendeiro ganancioso e seu filho que torcem
pela derrocada dos Narracotts, tem o próprio garoto Albert, deslumbrado
com seu cavalo, seu velho pai cansado, vivido por Peter Mullan, com uma perna ruim e o vício no álcool e sua forte mãe vivida por Emily Watson.
Logo os abandonamos para seguir com Joey pelo exército inglês e o
comandante que promete cuidar dele. Aí vamos seguindo viagem com os
irmãos alemães, a garotinha sonhadora e seu avô preocupado, o comandante
duro e o adestrador de animais sensível. E por aí vai. Parece que falta
algo e começamos a projetar em Joey o sentimento de querer voltar para
casa e reencontrar Albert, mas até isso parece superficial.
Em contrapartida, a técnica de Cavalo de Guerra é incrivelmente bela. Uma fotografia caprichada e bem construída para nos dar a sensação dos épicos
antigos. Com muito horizonte avermelhado, paisagens grandiosas, tomadas
aéreas de campos, e o ritmo lento e progressivo de um caminhar longo. A
trilha sonora também é impecável, feita para emocionar. E o desenho de
som é construído do esmero, principalmente nas cenas de batalha, onde o 5.1 é utilizado em toda sua potencialidade nos dando a sensação de estar ali, ouvindo ruídos vindos de vários lugares.
Apesar de ser um filme violento, que mostra os horrores da guerra e algumas batalhas sanguinolentas, Spielberg, ainda mais em um filme da Disney,
constrói tudo com muito cuidado. Temos por exemplo a execução de dois
personagens sendo encoberta pela hélice de um moinho, só sendo possível
ver o antes e o depois, mas não o momento em que os tiros atingem seus
peitos. Não temos sangue, também, muita cena é apenas sugestionada, como
uma bomba que detona, ou um tiro que sai errado. É interessante também
ver que, em certo momento, há um paralelo perfeito entre a vida de Joey e
a de Albert, é uma simbologia bem feita. Além de referências
interessantes a Dom Quixote
ou a amizade. O ponto negativo fica por conta do exército alemão
falando inglês, o que até nos confunde em alguns momentos em relação a
qual seja.
Também por ser um filme da Disney, Spielberg
nos traz momentos de alívios cômicos, por vezes exagerados como o ganso
que parece saído de algum desenho animado. Mas, há momentos
inteligentes como quando tentam ensinar Joey a saltar. Aliás, já
havíamos sido preparados para isso em um momento anterior do filme.
Isso é outro ponto positivo do roteiro, a pista e recompensa. Apesar
dos diversos clichês existentes, não podemos negar que as principais
resoluções nos foram preparadas de uma forma inteligente no primeiro ato
do filme. E uma delas, realmente emociona e nos faz vibrar na cadeira. Já em outros momentos, Spielberg
peca por ir além do que precisava, como na cena da bandeira branca na
trincheira que começa de forma esplêndida e termina forçada.
Cavalo de Guerra tem prós e contras e é um bom filme.
O problema é que isso não faz dele um clássico moderno, nem uma obra
memorável como tantas outras do diretor. Também não emociona o quanto
prometia, talvez pelo fato que querer tanto fazer isso, torna-se
artificial. Mas, nada disso parece ser empecilho para o mestre da
emoção. Spielberg, tal qual Dom Quixote, parece continuar em sua jornada solitária em busca do épico definitivo. Vamos torcer para ele não se perder no meio do caminho.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Cavalo de Guerra
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