quinta-feira, 26 de abril de 2012

Cavalo de Guerra

Cavalo de Guerra
Steven Spielberg é daqueles diretores que encantaram o mundo na década de 80 e, de seus clássicos emotivos, foi consagrado com A Lista de Schindler na década de 90. Desde então, parece que busca desesperadamente um novo E.T., Tubarão, Jurassic Park ou seja lá o que mais. Isso acaba o prejudicando e dando um certo ar de artificialidade em suas obras. Assim, surge Cavalo de Guerra, que está até bem nas cotações das premiações do ano, mas parece que falta algo. É um épico, de fato, bem realizado e está longe de ser um filme ruim. Mas, também não é o Spielberg que todos esperam ansiosos rever.
Baseados no livro de Michael Morpurgo, os roteiristas Lee Hall e Richard Curtis constróem a história de Joey, um cavalo considerado mágico e capaz de ir além de qualquer outro animal. Pelo menos é isso que ouvimos a cada momento de personagens diferentes. O interessante em Cavalo de Guerra é que aqui de fato Joey é o protagonista, ao contrário da série Corcel Negro, por exemplo, onde o garoto é o foco principal. E mais interessante ainda é que a fábula não antropomorfiza Joey, não temos seus pensamentos, graças a Deus ele não fala, nem faz algo parecido. É apenas um cavalo especial, que acompanhamos desde o seu nascimento. Sua ligação com o jovem Albert, vivido por Jeremy Irvine, e suas dificuldades na fazenda dos Narracotts. Depois seu "alistamento" na Primeira Guerra na cavalaria inglesa e toda a saga que decorre disso.




Cavalo de GuerraAcompanhamos Joey em sua trajetória e as pessoas que ele vai conhecendo no caminho. Isso torna o filme um pouco superficial. Não há um aprofundamento de personagens, nem mesmo de situações. Temos o fazendeiro ganancioso e seu filho que torcem pela derrocada dos Narracotts, tem o próprio garoto Albert, deslumbrado com seu cavalo, seu velho pai cansado, vivido por Peter Mullan, com uma perna ruim e o vício no álcool e sua forte mãe vivida por Emily Watson. Logo os abandonamos para seguir com Joey pelo exército inglês e o comandante que promete cuidar dele. Aí vamos seguindo viagem com os irmãos alemães, a garotinha sonhadora e seu avô preocupado, o comandante duro e o adestrador de animais sensível. E por aí vai. Parece que falta algo e começamos a projetar em Joey o sentimento de querer voltar para casa e reencontrar Albert, mas até isso parece superficial.

Em contrapartida, a técnica de Cavalo de Guerra é incrivelmente bela. Uma fotografia caprichada e bem construída para nos dar a sensação dos épicos antigos. Com muito horizonte avermelhado, paisagens grandiosas, tomadas aéreas de campos, e o ritmo lento e progressivo de um caminhar longo. A trilha sonora também é impecável, feita para emocionar. E o desenho de som é construído do esmero, principalmente nas cenas de batalha, onde o 5.1 é utilizado em toda sua potencialidade nos dando a sensação de estar ali, ouvindo ruídos vindos de vários lugares.


Cavalo de GuerraApesar de ser um filme violento, que mostra os horrores da guerra e algumas batalhas sanguinolentas, Spielberg, ainda mais em um filme da Disney, constrói tudo com muito cuidado. Temos por exemplo a execução de dois personagens sendo encoberta pela hélice de um moinho, só sendo possível ver o antes e o depois, mas não o momento em que os tiros atingem seus peitos. Não temos sangue, também, muita cena é apenas sugestionada, como uma bomba que detona, ou um tiro que sai errado. É interessante também ver que, em certo momento, há um paralelo perfeito entre a vida de Joey e a de Albert, é uma simbologia bem feita. Além de referências interessantes a Dom Quixote ou a amizade. O ponto negativo fica por conta do exército alemão falando inglês, o que até nos confunde em alguns momentos em relação a qual seja.

Cavalo de GuerraTambém por ser um filme da Disney, Spielberg nos traz momentos de alívios cômicos, por vezes exagerados como o ganso que parece saído de algum desenho animado. Mas, há momentos inteligentes como quando tentam ensinar Joey a saltar. Aliás, já havíamos sido preparados para isso em um momento anterior do filme. Isso é outro ponto positivo do roteiro, a pista e recompensa. Apesar dos diversos clichês existentes, não podemos negar que as principais resoluções nos foram preparadas de uma forma inteligente no primeiro ato do filme. E uma delas, realmente emociona e nos faz vibrar na cadeira. Já em outros momentos, Spielberg peca por ir além do que precisava, como na cena da bandeira branca na trincheira que começa de forma esplêndida e termina forçada.

Cavalo de Guerra tem prós e contras e é um bom filme. O problema é que isso não faz dele um clássico moderno, nem uma obra memorável como tantas outras do diretor. Também não emociona o quanto prometia, talvez pelo fato que querer tanto fazer isso, torna-se artificial. Mas, nada disso parece ser empecilho para o mestre da emoção. Spielberg, tal qual Dom Quixote, parece continuar em sua jornada solitária em busca do épico definitivo. Vamos torcer para ele não se perder no meio do caminho.

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